terça-feira, 19 de abril de 2011

Vocação e paixão...amor pela vida.

Na vocação para a vida está incluído o amor, inútil
disfarçar, amamos a vida. E lutamos por ela dentro e fora de nós mesmos.
Principalmente fora, que é preciso um peito de ferro para enfrentar
essa luta na qual entra não só fervor mas uma certa dose de cólera,
fervor e cólera. Não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos
com linha dupla todas as feridas abertas. E tem muita ferida porque as
pessoas estão bravas demais, até as mulheres, umas santas, lembra?

Costurar as feridas e amar os inimigos que odiar faz mal ao
fígado, isso sem falar no perigo da úlcera, lumbago, pé frio. Amar no
geral e no particular e quem sabe nos lances desse xadrez-chinês
imprevisível. Ousar o risco. Sem chorar, aprendi bem cedo os versos
exemplares, não chores que a vida/é luta renhida. Lutar com
aquela expressão de criança que vai caçar borboleta, ah, como brilham os
olhos de curiosidade. Sei que as borboletas andam raras mas se sairmos
de casa certos de que vamos encontrar alguma… O importante é a
intensidade do empenho nessa busca e em outras. Falhando, não culpar
Deus, oh! por que Ele me abandonou? Nós é que O abandonamos quando
ficamos mornos. Quando a vocação para a vida começa a empalidecer e
também nós, os delicados, os esvaídos. Aceitar o desafio da arte. Da
loucura. Romper com a falsa harmonia, com o falso equilíbrio e assim,
depois da morte – ainda intensos – seremos um fantasminha claro de amor
.”

LYGIA FAGUNDES TELLES
A DISCIPLINA DO AMOR

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